segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

ÉMILE DURKHEIM 1/3




1. Quem é Émile Durkheim?


Durkheim, nascido em 15 de abril 1858 na cidade francesa Épinal, fazia parte de uma família pobre de origem judia. Em 1879 ingressou na Escola Normale Supérieure e sai em 1882 com o título de Agrégé de Philosophie. Em 1882 realiza concurso para docência em filosofia e é nomeado professor em Sens e Saint-Quentin. Em 1885 vai estudar ciências sociais em Paris e na Alemanha, onde permanece por um ano, é nomeado professor de pedagogia e ciência social na Faculdade de Letras da Universidade de Bordéus (primeiro curso de sociologia nas universidades francesas).
Pouco tempo depois, mais precisamente entre os anos de 1893 e 1895, Durkheim redigiu as suas duas principais obras: Da divisão do Trabalho Social e As Regras do Método Social e As Regras do Método Sociológico.
A partir dessas obras constituiu com elas outras idéias, o desenvolvimento de um conceito acerca da consciência coletiva, nos quais a abordagem leva em consideração o conjunto de crenças e sentimentos comuns que refletem as inúmeras relações entre os membros de uma determinada sociedade.
Para Durkheim o fundamental para uma sociedade alcançar uma evolução e/ou desenvolvimento é necessário que a nação ou país focalize seus investimentos na educação, como base do processo, sendo que de acordo com o nível de educação elevado certamente iria produzir um melhor desenvolvimento. 
Foi um dos primeiros a dizer como é e como funciona a sociedade. Ele é considerado o Pai da Sociologia porque foi ele quem criou as regras de como se trabalhar cientificamente com a Sociologia. Elas estão descritas no seu livro “As regras do método sociológico”.
Durkheim é uma pessoa funcionalista, e isso significa que na sociedade tudo deve cumprir uma determinada função para a saúde do todo. Ou seja, para ele a Sociedade seria como um corpo humano, onde cada parte, ou órgão, deve cumprir sua função para a saúde do corpo.

Fonte:
Por Eduardo Freitas


2. Qual sua relação com o Positivismo?

Durkheim em relação ao pensamento positivista acredita que a sociedade possa ser analisada da mesma forma que os fenômenos da natureza. A sociologia tem, assim, como tarefa, o esclarecimento de acontecimentos sociais constantes e recorrentes. O papel fundamental da sociologia seria o de explicar a sociedade para manter a ordem vigente.
Ao desenvolver a sistematização de seu pensamento sociológico, Durkheim diferenciou-se de Saint-Simon e Comte, uma vez que seu aparato conceitual foi além da reflexão filosófica, constituindo um corpo elaborado e metódico de pressupostos teóricos sobre a problemática das relações sociais. Em função desses aspectos teóricos originais, os estudos de Durkheim ganharam relevância para as ciências da sociedade, tornando-se parâmetros para vários ramos de pesquisa sociológica até nossos dias.
Para ele, a Sociologia deveria ser um instrumento científico da busca de soluções para os desvios da vida social, tendo, portanto, uma finalidade dupla: além de explicar os códigos de funcionamento da sociedade, teria como missão intervir nesse funcionamento por meio da aplicação de antídotos que pudessem diminuir os males da vida social. Em sua compreensão, a sociedade, como qualquer outro organismo vivo, passaria por ciclos vitais com manifestações de estados normais e patológicos, ou seja, saudáveis e doentios. O estado saudável seria o de convivência harmônica da sociedade consigo mesma e com as demais sociedades, já o estado doentio seria caracterizado por fatos que colocassem em risco essa harmonia, os acordos de convivência, o consenso.
As Regras do Método Sociológico constituem a obra positivista de Durkheim por excelência, já que é nela que podemos identificar a defesa explícita dos principais elementos que constituem o positivismo.



3. Como Durkheim dividia a Sociologia?

Durkheim considera a Sociologia como uma ciência positiva, sendo assim, ela não se limita a apenas um problema, antes, ela abrange uma gama bastante diversa de problemas sociais. Existem ramos na Sociologia, como em qualquer outra ciência, e esses ramos são mais específicos e estudam mais detalhadamente os acontecimentos sociais. A divisão é a seguinte:

·       Morfologia social - Estudo do ambiente geográfico que cada povo se localiza e as respectivas relações com a organização social. Além de estudar aspectos da população, como densidade, volume e distribuição geográfica.

·         Fisiologia social - Estudo das funções e manifestações vitais da sociedade, subdivida em:

Sociologia Religiosa -- Estudo da religião e crenças dos povos e suas influencias sociais.
Sociologia Moral -- Estudo das ideias morais e os costumes.
Sociologia Jurídica -- Estudo do caráter social das instituições jurídicas.
Sociologia Econômica -- Estudo das relações econômicas sociais e os diferentes tipos de instituições.
Sociologia Linguística -- Estudo da linguagem característica de cada segmento social e suas influências com a sociedade.
Sociologia Estética -- Estudo da arte e das marcas autorais de acordo com a época de origem e com o temperamento dos grupos sociais que as obras se dirigem.

·         Sociologia Geral - Estudo dos diversos tipos de fatos sociais, que apesar de serem bastante diferentes entre si, pertencem ao mesmo gênero. E cabe a Sociologia Geral investigar esse gênero comum. É uma ciência de síntese.

ESQUEMA DURKHEIMIANO



4. Por que é da natureza das próprias ciências positivas não serem jamais acabadas?

É a da própria natureza das ciências positivas não serem acabadas, porque as realidades de que se tratam são muito complexas para poderem ser algum dia esgotadas. São baseadas em experimentos e análises da realidade, seus valores podem ser questionados e modificados. Como uma ciência empírica, ela é baseada na observação pessoal, e nem sempre, estão completas e/ou corretas. Está sempre se aprimorando.


5. Qual a relação entre moral e a vida social para Durkheim?

  “A vida social não é outra coisa que o meio moral, ou melhor, o conjunto dos diversos meios morais que cercam o indivíduo” (Durkheim)
  
  “A moral é um sistema de normas de conduta que prescrevem como o sujeito deve conduzir-se em determinadas circunstâncias” (Durkheim)

A concepção de sociedade elaborada por Durkheim faz da vida social um fenômeno essencialmente moral. 
Para Durkheim, sempre que há sociedade há altruísmo e, portanto, vida moral. Nossa conduta propriamente social não se orienta apenas para a satisfação de nossos interesses e não faz dos outros um meio para a obtenção de nossos fins. A vida social exige de nós sacrifícios e renúncias, desempenhamos nossos deveres motivados pelo sentimento de obrigação, pelo senso do dever. O homem submete-se à moralidade social como forma de proteção, embora muitas vezes seja inconsciente ou não expressa. Em outras palavras, o homem aprende que a melhor forma de fazer o bem para si é fazendo o bem para os outros, não por que acha bonito, mas por que sabe que negar essa realidade e agindo de forma contraria, estará causando-lhe consequências e será julgado por suas falhas.
  À medida que um grupo social cresce, aumenta também a pressão coletiva em cima do indivíduo. Nesse universo, cada pessoa é Juiz e Réu. Em momentos diferentes, a mesma regra que é vista como uma obrigação rígida e taxativa é avaliada como maleável e correta quando se é utilizada para interesses próprios.


6. O que é um fato social?

Os fatos sociais possuem um papel central na teoria sociológica de Émile Durkheim. Para ele, são tudo aquilo que habita nossas mentes e que serve para nos orientar sobre como devemos ser, nos sentir e nos comportar, demandadas externamente aos indivíduos por possuírem um alto poder coercitivo.
Isto é, o que as pessoas sentem, pensam ou fazem independente de suas vontades individuais, é um comportamento estabelecido pela sociedade, não totalmente próprio de si mesmo. Não é algo que seja imposto especificamente a alguém, é algo que já estava lá antes e que continua depois e que não dá margem a escolhas. São diferentes dos fenômenos orgânicos e dos psíquicos, pois constituem uma espécie nova de fatos. São fatos sociais: regras jurídicas, morais, dogmas religiosos, sistemas financeiros, maneiras de agir, costumes, etc.
Durkheim contraria, assim, Auguste Comte, pois ele acredita que as sociedades nascem, crescem e morrem, independentes umas das outras, não havendo ao longo de suas vidas uma evolução. Elas são de jeito que as sociedades antigas já eram, e as sociedades vindouras será apenas uma repetição das sociedades anteriores a elas. Quando uma sociedade é extinta de algum lugar, sua sucessora constituirá uma sociedade totalmente nova e não a igual à extinta com características novas.
São exemplos de fatos sociais: dogmas religiosos, sistemas financeiros, costumes, regras jurídicas, entre outros.

As três características básicas de um fato social são:

§  Coercitividade - característica relacionada com a força dos padrões culturais do grupo que os indivíduos integram. Estes padrões culturais são fortes de tal maneira que obrigam os indivíduos a cumpri-los.

§  Exterioridade - esta característica transmite o fato desses padrões de cultura serem "exteriores aos indivíduos", ou seja, ao fato de virem do exterior e de serem independentes das suas consciências.

§  Generalidade - os fatos sociais existem não para um indivíduo específico, mas para a coletividade. Podemos perceber a generalidade pela propagação das tendências dos grupos pela sociedade, por exemplo.

“Certos tipos de conduta ou de pensamento não são apenas exteriores ao individuo, são também dotados de um poder imperativo e coercitivo, em virtude do qual se lhe impõem, quer queira, quer não.”



7. Qual a relação entre o comportamento individual e as maneiras de ser coletivas?

Fatos sociais são externos aos indivíduos, assim, podem ser diferentes dos pensamentos das pessoas. Porém, eles têm a alta capacidade de coerção, isto é, fazem as atitudes das pessoas serem independentes de suas vontades próprias, são determinadas pelos fatores externos a elas (coletividade).
As pessoas não devem apenas seguir obrigações independentemente de sua vontade, são desejos delas segui-las. Os indivíduos não se realizam fora da sociedade ou do grupo ao qual pertencem. Só no meio de um grupo social, as pessoas encontram segurança para levar suas vidas. Com isso, a sociedade é para os indivíduos um conjunto de deveres estranhos a eles, mas com uma leva de direitos e deveres dos quais eles precisam.
Manifestações de entusiasmos, indignação, piedade, etc. chegam a cada indivíduo do exterior e não têm sua origem em nenhuma consciência particular. Se um indivíduo experimentar opor-se a uma destas manifestações coletivas, os sentimentos que nega voltar-se-ão contra ele. As pessoas são então vítimas de uma ilusão que nos faz acreditar termos sido nós quem elaborou aquilo que se nos impôs do exterior. Elas foram sua presa, mais do que seus criadores.
Diferentes sociedades enxergam diferentes fatos de formas diversas. Por exemplo, o casamento é uma instituição falida em países, sobretudo do norte europeu, mas em muitos países de tradição católica, como os latino-americanos, continua a ser um desejo da maioria das mulheres. Em uma pesquisa realizada em 2008, mostrou-se que o povo brasileiro era o mais confiante em sua felicidade futura no mundo, num levantamento realizado em 132 países. Durkheim explicaria esse fato com a percepção de que a sociedade brasileira no geral precisa de pouco para ser feliz, ao passo que na Europa num momento de crise como o vivido em 2008 as sociedades não viam seus países com um futuro brilhante pela frente.





sábado, 11 de fevereiro de 2012

AUGUSTE COMTE




1. Quem é Auguste Comte?


Isidore Auguste Marie François Xavier Comte, mais conhecido como Auguste Comte foi um filósofo e sociólogo, fundador do positivismo, nascido em Montpellier, França, em 19 de janeiro de 1798. Comte veio de uma família monarquista e católica.
Como nasceu nove anos após a revolução francesa, momento no qual a burguesia alcançou o poder político, recebeu na escola uma formação dentro da tradição revolucionária burguesa, que consistia em estudos de Ciências e Filosofias Iluministas. Aos catorze anos se declarou republicano e anticlerical, e cinco anos mais tarde começou a se afastar da própria tradição revolucionária. Em 1814, aos dezesseis anos de idade, com interesse pelas ciências naturais, ingressou na Escola Politécnica de Paris.
Um de seus primeiros empregos foi o de secretário do Conde Henri de Saint-Simon, o primeiro filósofo a ver claramente a importância da organização econômica na sociedade moderna, e cujas idéias Comte absorveu, sistematizou com um estilo pessoal e difundiu. Depois de um desentendimento com Saint-Simon, Comte se afastou e virou professor na escola politécnica, momento em que escreveu sua principal obra, O curso de Filosofia Positiva.
Comte sofreu duas crises nervosas e, recuperado de seu segundo colapso, se dedicou à sua segunda grande obra, Sistema de Política Positiva ou tratado de sociologia que institui a religião da humanidade, reunida em quatro volumes e escrita entre os anos de 1851 e 1854. Nessa obra, Comte defendeu a primazia da emoção sobre o intelecto, do sentimento sobre a racionalidade. Por outro lado, distorceu a proposta de disciplina eclesiástica de Saint-Simon criando a Religião da Humanidade.
Quando o Sistema apareceu, Comte escandalizou e perdeu a maioria dos seguidores racionalistas que ele havia conquistado com tanta dificuldade nos últimos quinze anos. Ainda assim sua religião positiva se espalhou pela França, Inglaterra e sobretudo na América. Fundou a Sociedade Positivista, que se transformou no centro principal de seu ensino. Os membros se cotizaram para assegurar a subsistência do mestre e fizeram os votos de espalhar sua mensagem. O moto da Igreja Positiva era amor, ordem e progresso. O jovem estudante de passeata agora pregava as virtudes do amor, da submissão e a necessidade da ordem para o progresso social.
Comte faleceu em Paris, dia 5 de setembro de 1857.



2. Qual a importância do seu pensamento?

O pensamento de Comte baseava-se numa idéia evolutiva de sociedade, em que a humanidade deveria passar, primeiramente, por dois estágios: o teológico e o militar. O terceiro seria o ápice da evolução social: o estágio positivo. Dentro desta perspectiva, acreditava-se que o Estado seria o grande responsável em patrocinar o bem social. A influência desse pensamento no período monárquico promoveu uma compreensão de que o regime que mais se aproximaria do ideal positivista não poderia ser a Monarquia, mas sim a República. Partindo desse mesmo pensamento, o positivismo influenciou o Brasil, que na época da Proclamação da república, caracterizou o projeto republicano pela ideia de um poder centralizado e forte, viabilizando o progresso do país. A representação do Brasil, sua bandeira, possui os dizeres ‘ordem e progresso’, extraídos da frase ‘O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim’, fórmula máxima do positivismo. A frase tenta passar a ideia de que cada coisa em seu devido lugar conduziria para a perfeita orientação ética da vida social, ou seja, sem ordem e progresso não haveria Estado.
Além dessas influências, o pensamento de Augusto Comte se impregnou na mentalidade de intelectuais, políticos e grupos sociais diversos em todo mundo no século XIX, refletindo-se também na cultura, como no Parnasianismo. Atualmente, seu pensamento ainda é alvo de admiração pela notável unificação que alcançou entre a filosofia humanística e o pensamento científico.


3. Quais as principais ideias de Comte?

Auguste Comte viveu e baseou sua obra de acordo com a França pós-revolucionária, ele defendia os ideais da Revolução de 1789 ("Liberté, Egalité, Fraternité"). Comte é contra a restauração da monarquia e se preocupa bastante com a reestruturação da nova sociedade francesa.  Ele também adotou ideais republicanos e liberais.
Comte dividia sua obra em duas partes: O Estático e o Dinâmico, correspondentes à Ordem e ao Progresso.
Dizia que toda mudança, progresso, tinha que estar em constante harmonia com a ordem social. Pode-se dizer, que Comte adotava uma visão mais conservadora, pois, a mudança era condicionada à ordem e não podia, então, acarretar alterações profundas no sistema social.
Uma frase que pode resumir o pensamento Comteano é: "Nem restauração, nem revolução!".

Em suma, a ordem e progresso, presentes inclusive na nossa bandeira nacional e símbolo das influências deste grande pensador na cultura brasileira, mostra claramente que a "Ordem" está intrinsecamente relacionada ao "Progresso", pois ela é a base para qualquer mudança. 


4. O que é positivismo?

Auguste Comte propõe uma nova forma de visão acerca dos fenômenos, entre eles, os Naturais e os Sociais; essa visão é chamada Positivista. O Positivismo nada mais é do que a oposição entre racional x ideal, isto é, a visão positivista não leva em consideração aspectos da Teologia ou Metafísica, somente o físico, material, tem importância, e para analisarmos e chegarmos no "Positivo" devemos utilizar da observação. Não há espaços para dúvidas, interpretações ou particularidades, no Positivismo impera a precisão e a razão.
Podemos citar a Lei dos Três Estados, que mostra a evolução do pensamento do homem, até chegarmos aos dias de hoje:

i) Teológico: O homem explica a sua realidade por motivos sobrenaturais, pelos deuses, e busca saber da sua origem.

ii) Metafísico: É um estágio de transição entre o Teológico, visão focada em motivos divinos, e o Positivo, visão concreta, racional, dos acontecimentos e fenômenos. Algumas características teológicas permanecem, como a busca da origem e do destino. Predomínio do abstrato.

iii) Positivo: Estágio final de evolução do pensamento do homem. Não há mais explicações sobrenaturais para os fenômenos do dia a dia, ao contrário, busca-se a constante observação empírica para a efetiva análise das "coisas". Agora, predominam questões como os processos e etapas que os fenômenos acontecem (não mais é necessário saber a origem), e suas relações com as leis naturais, quer dizer, atributos necessários para existência.


5. Discuta a relação entre ciência social e Biologia.

Por possuir partes comuns à biologia e às ciências sociais, o estudo biológico do comportamento humano, conhecido como sociobiologia, sempre representou uma interface entre as duas áreas. A sociobiologia nasceu como um ramo da etologia, disciplina que estuda o comportamento social dos animais, sendo consequência de uma série de novas teorias e modelos sobre o comportamento e sobre a seleção natural formulados nos anos 60 e 70, por teóricos como: Richard Dawkins, autor de o "Gene Egoísta" (1976); Edward Osborne Wilson, autor de "Sociobiology: the new synthesis"; Robert Trivers, autor de conceitos correntes da Sociobiologia como representatividade genética e altruísmo recíproco; W. D. Hamilton, autor de conceitos como a seleção de parentesco; entre outros.
Relacionar a biologia com as ciências sociais, porém, sempre foi tema de discussão. Grandes diferenças entre a sociobiologia e as ciências sociais começam a surgir a partir do momento em que observam-se muitos pesquisadores contrários à idéia que a sociobiologia propõe: que comportamentos e sentimentos animais, também existentes nos seres humanos, como o altruísmo e a agressividade, são geneticamente herdados, e não são apenas cultural ou socialmente adquiridos. Já para os cientistas sociais diferenças entre os grupos populacionais não podem estar associadas a uma suposta diversidade biológica, são adquiridas com o passar do tempo. Isto retorna à premissa de Thomas Hobbes, segundo a qual o ‘’homem é o lobo do homem’’, isto é, há uma luta constante na sociedade que transforma os homens cada vez mais, modificando-o constantemente para sobreviver e perpetuar seus genes.

Com os conhecimentos atuais da genética, sabe-se que a maior parte da diversidade biológica se dá entre indivíduos, e não entre populações ou “raças”. Isto ocorre porque qualquer diferença na sequência dos genes entre dois indivíduos os torna completamente diferentes. Bebês nascem ao redor do mundo com a mesma incapacidade de andar e falar, porém com o tempo desenvolvem as mesmas; as únicas características que os distinguem são físicas: cor de pele, cabelo e olhos.


6. Existe uma ciência exata da sociedade?

É comum fazer-se uma distinção entre ciências exatas e ciências humanas. Uma ciência exata  é qualquer campo da ciência capaz de quantizar, fazer predições precisas e utilizar métodos rigorosos de testar hipóteses. 
Matemática, Física, Engenharia, Química Estatística, entre outras, são exemplos de ciências exatas. Já uma ciência que estuda aspectos sociais, como a Antropologia, a Administração e a Contabilidade, possui um caráter menos preciso.

Por isso, estudar a sociedade é algo extremamente complexo, visto que hoje há no mundo mais de sete bilhões de pessoas. Não se pode dizer que há uma sociedade única no mundo. Analisando-se a população brasileira, por exemplo, observa-se uma grande diversidade étnica - resultado de séculos de imigração de europeus, asiáticos, africanos, sul-americanos, entre outros, que ajudaram a diversificar a culinária e a música locais. Com isso, é impensável descrever um brasileiro típico, apesar de no exterior se propagar a ideia de que no Brasil todos amam samba e futebol.

Analisando-se a cidade de São Paulo, em especial, observam-se características, por exemplo, dos asiáticos no bairro da Liberdade, de italianos na Mooca e no Bixiga, de armênios no Pari e mais recentemente de bolivianos e peruanos no Brás.

Isto foi representado por Tarsila do Amaral, no quadro ‘‘Operários’’:



É possível, porém, traçar o perfil de algumas sociedades que conservam tradições seculares, como certas populações indígenas no Brasil, que em número são aproximadamente 500.000(ou 0,5% da população total). Muitos deles vivem até hoje isolados em aldeias nas regiões norte e nordeste do Brasil, onde são protegidos pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio).
Os Bororos são um exemplo de grupo indígena com as seguintes características:

Classificação lingüística: Bororo (Tronco Linguístico Macro-Jê)
População: 1.392 (Funasa - 2006)
Localização: planalto central do Mato Grosso
Atividades : caçadores e coletores, agricultura para subsistência
Curiosidade : Dentro de cada clã há uma comunhão de bens culturais (nomes, cantos, pinturas, adornos, enfeites, seres da natureza) que só podem ser usados pelos membros desse determinado clã a não ser que este direito seja participado a outras pessoas em “pagamento” por favores recebidos.

Destacam-se pela confecção de seus artesanatos de plumagem (cocar e braçadeiras em pena) e também pela pintura corporal em argila.
Rituais:
  • “Festa do Milho” para celebrar a colheita do cereal, um alimento importante na nutrição dos índios;
  • “Furação de Orelha e Lábios”;
  • ‘’Ritual do Funeral’’, que pode durar até dois meses.

A morte de alguém pode provocar mudanças ou reforçar as alianças. Mas a tribo obedece a uma organização social rígida. A aldeia é dividida em duas partes - exare e tugaregue - que, por sua vez, se subdividem em clãs com deveres muito bem definidos. Eles reconhecem a liderança de dois chefes hereditários que sempre pertencem à metade exare, conforme determinam seus mitos.
Portanto, não se pode dizer que há uma ciência exata da sociedade. É possível apenas estudar diferentes populações para se encontrar traços comuns e diferentes entre elas.
Seguem algumas fotos dos índios Bororo e suas tradições:


7. Descreva os pontos mais importantes do texto Sociologia – conceitos gerais e Surgimento, de Auguste Comte.

A primeira parte importante de texto é quando ele descreve o conceito de Física Social: “Entendo por Física Social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos fenômenos sociais” “cuja descoberta é o objetivo especial de suas pesquisas”.
“Considerando sempre os fatos sociais não como objetos de admiração ou de crítica, mas como objetos de observação” “estabelecer e apreender a influência que cada um exerce sobre o conjunto do desenvolvimento humano”.
“A ciência conduz à previdência, e a previdência permite regular a ação”.
Seguido da importância das Leis naturais em Sociologia: “Esse sentimento fundamental de um movimento social espontâneo e regulado por leis naturais constitui necessariamente a verdadeira base científica da dignidade humana” “de vez que as principais tendências da humanidade adquirem assim um importante caráter de autoridade”.
Descreve também a ordem das transformações das ciências em ciências positivas: Foi uma revolução quando as ciências começaram a tornam-se verdadeiramente positivas. “Esta revolução está portanto, plenamente efetuada em todos os nossos conhecimentos particulares” “e tende operar-se hoje na Filosofia, Moral e Política”. A única coisa que falta ao desenvolvimento espiritual do nosso sistema social é o fundamento das doutrinas teológicas e da metafísica, em observações.
À medida que as ciências tornaram-se positivas uma massa cada vez maior de ideias científicas penetrou e as doutrinas religiosas perdiam pouco a pouco. As concepções positivas como qualquer outra (teológica ou metafísica) seguiram uma ordem. Essa ordem é pelo grau de facilidade que apresenta o estudo, pela sua complicação, independência, grau de especialidade e por sua relação direta com o homem.
“Falta, sobretudo, para o homem o ponto de vista social (Física Social)”.
A necessidade da Sociologia e sua definição: “A política não escapou, assim como as outras ciências, a esta lei fundada sobre a natureza das coisas”.
Há a necessidade de tornar a ciência social positiva, e para isso trata-se a política como uma aplicação de outras ciências já positivas. Cumpre considerar a ciência política uma física particular. “Esta Física Social é evidentemente tão positiva como qualquer outra.” “Resta concluir o sistema das ciências de observação fundando a Física Social”.
Define-se por Sociologia o estudo positivo do conjunto das leis fundamentais apropriadas aos fenômenos sociais.
E a Sociologia caracterizada por uma ciência da crise: “dois movimentos diferentes da natureza agitam hoje a sociedade: desorganização x reorganização”, “O primeiro é ela impelida para uma profunda anarquia moral e política. Pelo segundo, é ela conduzida para o estado social definitivo da espécie humana, o mais conveniente”. “É na coexistência dessas duas tendências opostas que consiste a grande crise vivida pelas nações.”
“A única maneira de reduzir a crise é determinar às nações que deixem a direção crítica e tomem a direção orgânica.” Mas isso não é capaz já que todas as sociedades têm seus vícios próprios. “A insuficiência da doutrina crítica é tão profunda quanto a incompatibilidade do sistema teológico com o presente estado da civilização“, “A sociedade está hoje desorganizada tanto no aspecto espiritual como temporal. Ainda hoje o mal-estar depende muito mais da espiritual. E o estudo ainda mostra que a reorganização espiritual esta mais preparada enquanto que a atenção fixou-se sobre a reforma temporal”.
“Nada se pode fazer de essencial e do sólido quanto a parte prática, enquanto a parte teórica não estiver estabelecida, ou, pelo menos, bem adiantada.” “Se se considerar a impossibilidade de restabelecer a teologia, não há outra solução admissível a não ser a formação da Filosofia Positiva.”