1- O que são julgamentos de valor?
Julgamentos de valor são aqueles que enunciam avaliações pessoais, isto
é, o valor que determinadas coisas possuem para alguém. Todos esses julgamentos
acompanham as pessoas ao longo de suas vidas, possuindo grande significado para
cada um individualmente, porém para outras pessoas pode ser algo extremamente
supérfluo. Por exemplo, “Esta camisa é feia”. Este é um exemplo de
julgamento de valor, pois é a opinião de alguém perante um objeto, mas que pode
ser diferente para outra pessoa.
2- O que são julgamentos de
realidade?
Também conhecidos como julgamentos de existência,
são aqueles que enunciam o que existe no universo e a forma como é apresentado.
Neste tipo de julgamento não se leva nenhuma opinião ou valor pessoal, apenas
as características naturalmente apresentadas. Por exemplo: quando alguém diz
“esta camisa é branca’’, está emitindo um julgamento de realidade, pois é algo
fixo à camisa. Não há como se dizer que a camisa possui uma coloração
diferente, pois a cor é intrínseca à camisa.
3-
Qual a relação entre julgamento de valor e de realidade?
Émile Durkheim caracteriza o julgamento que as pessoas fazem em relação
às mais variadas ocasiões da vida em dois grupos: de VALOR e de REALIDADE.
Julgamentos de valor são tidos muitas vezes como acepções pessoais, ou
preceitos que a pessoa leva consigo no decorrer de sua vida, de tal forma, ela
expressa o seu pensamento em relação a determinado acontecimento, mas não quer
dizer que seja verdade ou mentira, correto ou errado, mas apenas uma avaliação
pessoal. Tem por objeto dizer o que as coisas valem em relação à um ponto de
vista de alguém, mas não o que as coisas, de fato, são, é simplesmente uma
atribuição de valores. Podemos exemplificar:
Quando dizemos, "Prefiro ir ao estádio de futebol do que assistir
em casa" emitimos um juízo de valor.
Julgamentos de realidade são o inverso dos de valor, eles correspondem
ao que as coisas significam, existe uma relação bem direta com a razão e a
ciência positiva, pois esse julgamento é baseado na realidade dos fatos, com
total imparcialidade de opiniões, relatando apenas o que, de fato, existe.
Quando determinamos uma fórmula matemática ou qualquer conhecimento científico,
enunciamos um julgamento de realidade. Podemos exemplificar:
"Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço".
4- O que os julgamentos de realidade tem a ver com a ciência positiva
Podemos dizer que os julgamentos de realidade exprimem o que, de
fato, existe, através de uma observância empírica, eles não levam
em consideração qualquer tipo de opinião ou valor pessoal, pois limitam-se a
expressar os fatos como eles são por natureza e como são observados. E na
ciência positiva, este é o alicerce fundamental: A cientificação do
conhecimento através da razão, tendo a ciência o papel de analisar e descrever
os fenômenos como eles são, de forma empírica e racional, sem avaliações
pessoais, da mesma forma que os julgamentos de realidade assim o fazem. Dessa
forma, os julgamentos de realidade são as ferramentas mais utilizadas pelos
cientistas na construção do pensamento científico.
5- O que é moral para
Durkheim?
Para Durkeim Moral é a ciência dos costumes (Durkheim,
Lévy-BRÜhl)
A
idéia básica é que a moral deva ser uma regra determinante da conduta, fixando
o comportamento de forma a reduzir o arbítrio individual, além de estabelecer a
regularidade de hábitos em condições determinadas. Essa regularidade atuaria
mediante a autoridade moral, sendo que juntas comporiam o espírito de
disciplina, a primeira disposição fundamental de todo temperamento moral,
considerado o primeiro elemento da moralidade e fator sui generis na educação.
Associada à ideia do condicionamento da moralidade, Durkheim argumenta sobre a
necessidade humana de interessar-se por algo distinto de si mesmo mediante o
vínculo com grupos sociais e a devida solidariedade a estes. Esse vínculo
social é considerando o segundo elemento da moralidade. Uma moralidade compreendida
como uma mescla de razão e sentimentos, um dualismo entre a autonomia e a
heteronomia, uma natureza marcada pela vontade arrazoada e a obrigação. Para
Durkheim não há no homem uma unicidade de razão que lhe permita ter uma
autonomia plena de sua vontade. Entretanto, considerava a autonomia da vontade
o terceiro elemento da moralidade. Em suma, moral seria um valor,
feito da soma de outros valores (ex: justiça, costumes), que motiva condutas.A
moralidade é o ponto central para a estruturação da sociedade.
6-O valor moral da sociedade equivale a
soma de valores morais individuais?
Não. O
valor moral da sociedade é uma questão a parte dos valores morais individuais.
Ela que de um modo geral comanda as morais de cada pessoa. Discriminando ações,
julgamentos, crenças .. A autonomia da vontade é considerada só o terceiro elemento da moralidade de Durkheim.
7- Quais exemplos que podemos dar da visão
Durkheimiana da relação entre moral e sociedade?
Existem dois exemplos ‘concretos’ da visão Durkheimiana entre moral e
sociedade, são eles o suicídio e a divisão de trabalho.
O suicídio é um ato individual, resultante do meio social que cerca o
indivíduo. A ausência de regras claramente definidas que regulem o
comportamento dos indivíduos na sociedade, ou seja, anomia¹, é um momento de
desregularização, não há lei nem regras, os indivíduos sentem-se perdidos, sem
valores de comportamentos para seguirem. Os motivos que levam alguém a cometer
suicídio são muitos, entre eles, religião, condição e posição social e família.
Existem 3 tipos de suicídio:
Suicídio egoísta: é aquele que se encontra com uma maior frequência,
este tipo de suicídio é “ (…) caracterizado por um estado de depressão e de
apatia, fruto de um individualismo exagerado.” (Durkheim).
- Suicídio altruísta: este tipo de suicídio é caracterizado por uma
integração social desmedidamente forte, pois o individuo pode suicidar se por
estar perdido na sociedade que o acolhe, mas também pode faze-lo caso esteja
demasiado integrado nela.
- Suicídio anômico: (…) a anomia
provoca um estado de desespero e de cansaço exasperado que pode (…) virar-se
contra o próprio individuo ou contra outrem (…)” (Durkheim) O suicídio anômico
é o tipo de suicídio que ocorre com uma maior frequência nas sociedades
modernas. Ele acontece quando as normas sociais e leis que governam a sociedade
não correspondem com os objetivos de vida do indivíduo. Uma vez que o indivíduo
não se identifica com as normas da sociedade, o suicídio passa a ser uma
alternativa de escapar.
A divisão do trabalho não é apenas um fenômeno econômico, mas um
fenômeno social e, portanto, gerador de vínculos de solidariedade. A divisão do
trabalho não gera apenas interdependência objetiva, no sentido de que em uma
sociedade em que o trabalho social está dividido dependemos uns dos outros para
a satisfação de nossos interesses. A
divisão do trabalho teria um efeito muito maior, alcançando as camadas mais
profundas da consciência moral. Seguindo o exemplo de um organismo biológico,
onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, se cada
membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho, ele será
obrigado através de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a
necessidade de se manter coeso e solidário aos outros. O importante para
Durkheim é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente
precise da sociedade de forma orgânica, não apenas mecânica.
¹- Anomia: é um estado de falta de objetivos e perda de identidade, provocado pelas intensas transformações ocorrentes no mundo social moderno.
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